As insaturadas, do azeite de oliva, do abacate e do salmão, afastam a tristeza profunda. Já as trans e as saturadas, dos doces e da carne vermelha, aumentam em até 50% o risco de a doença aparecer.
Esqueça aquela história de afogar as mágoas devorando um sorvete ou um pastel. A tática piora a situação e, agora, isso está provado cientificamente. E atenção: não só porque engordam, abalando de vez a autoestima. "Os ácidos graxos trans, presentes nessas comidas, aumentam em até 50% o risco de depressão", revela a epidemiologista Almudena Villegas, da Universidade Las Palmas, na Espanha, que pesquisa a substância há anos e acaba de divulgar seu último trabalho. "Quanto maior a quantidade ingerida, maior o risco de ficar deprimido", diz.
A lista de alimentos na corda bamba inclui industrializados como biscoitos, sorvetes, margarinas, salgadinhos e frituras. Eles recebem altas doses de gordura trans para se tornar crocantes. Uma vez dentro do corpo, aumentam o colesterol ruim e fazem um mal danado ao coração — além de prejudicarem os mecanismos cerebrais envolvidos no controle do humor. As gorduras saturadas, da carne vermelha, também foram enquadradas. Assim como as trans, elas têm um elo estreito com a depressão. E, de novo, quanto mais são consumidas, pior.
Felizmente, há outros ácidos graxos que combatem os efeitos nefastos da tristeza patológica. Os insaturados, do azeite de oliva e do abacate, têm esse papel. "O consumo de 20 gramas diários do óleo de oliva foi associado a uma probabilidade até 30% menor de ocorrência do problema", afirma Almudena. "Isso ocorre porque suas gorduras facilitam a passagem de informações entre os neurônios. Assim, evitam falhas que poderiam desencadear o transtorno", explica o psiquiatra Sérgio Klepacz, do Hospital Samaritano de São Paulo. "Já as trans dificultam a comunicação entre as células nervosas, porque envolvem a membrana do neurônio e o tornam menos fluido." E, se o fluxo de mensagens ali míngua, é quase certo que a depressão sem fim vá se instalar.
Mas como é, enfim, que uma simples escolha alimentar pode desencadear ou piorar os sintomas de uma doença tão complexa como a depressão? A resposta é complicada e passa, inclusive, por mecanismos envolvidos na fabricação de substâncias lá no coração. "As gorduras trans e saturadas aumentam a produção de moléculas denominadas citocinas. Elas são pró-inflamatórias e promovem alterações no endotélio, membrana que reveste internamente o tecido cardíaco", conta Almudena. O problema é que o tal do endotélio é responsável pela síntese de uma proteína conhecida como BDNF, superimportante para o crescimento e a capacidade de regeneração dos neurônios. Dessa forma, se ele não trabalha direito, desencadeia uma reação que se reflete nas células nervosas, que, sem conseguir se comunicar direito, deixam o caminho livre para o tempo fechar.
"As citocinas também interferem na ação dos neurotransmissores, as moléculas que atuam no processo de transmissão nervosa", completa a pesquisadora espanhola. Elas diminuem a disponibilidade de substâncias precursoras da serotonina, neurotransmissor que age como um papa do bem-estar. E aí o corpo fica a um passo da depressão. "As causas da doença ainda não estão completamente determinadas", afirma a psiquiatra Sandra Carvalhais, presidente da Associação Mineira de Psiquiatria. "Mas sabemos que alterações neuroquímicas, sobretudo o desequilíbrio das funções dos neurotransmissores, estão relacionadas ao seu desenvolvimento." Tanto que os remédios antidepressivos atuam, primordialmente, na tentativa de balancear essas alterações.
Só não vale extrapolar e achar que a fritura do final de semana é responsável por qualquer baixo-astral. "A enfermidade tem várias causas, e o que a caracteriza não é apenas o maior grau de tristeza", esclarece o psiquiatra José Romildo Bueno, diretor da Associação Brasileira de Psiquiatria. "O deprimido perde as expectativas, vê-se sem horizontes, sentese impotente, incapaz e tem elevado grau de pessimismo." Além disso, sofre com a perturbação dos estados de sono e de vigília, com a alteração do apetite e da libido, com a perda de concentração e com a sensação de que o tempo não passa.
Ainda bem que, como os cientistas espanhóis descobriram, nem todas as gorduras foram colocadas na linha de fogo da saúde mental e algumas podem contrabalançar esses tristes danos, como é o caso das insaturadas. Elas beneficiam a cachola em duas frentes. "Primeiro, agem como antioxidantes e anti-inflamatórios, combatendo os radicais livres que promovem inflamações pelo corpo", lembra Almudena. Assim, protegem o endotélio — aquele, lembre-se, ligado à produção de uma proteína importante para o equilíbrio mental — contra o ataque das gorduras maléficas. "Segundo, facilitam o encaixe da serotonina a seus receptores cerebrais, o que agiliza a transmissão dos impulsos nervosos", completa.
Agora que a gente sabe quais gorduras fazem parte de cada time, não é difícil se precaver. Vale o alerta, no entanto, de que mudar a composição do prato não soluciona o problema, caso ele já tenha marcado presença. "Uma dieta mais equilibrada ajuda, mas não acaba com a depressão. O tratamento nutricional deve ser coadjuvante dos métodos tradicionais", alerta o nutrólogo Celso Cukier, do Hospital e Maternidade São Luiz, em São Paulo. E, se dá para comer e ficar mais feliz, por que não tentar?
OUTROS NUTRIENTES DO BEM-ESTAR
Assim como as gorduras insaturadas, eles melhoram a ação dos neurotransmissores e evitam o mau humor
FOLATO
A deficiência dessa vitamina contribui para falhas na fabricação de neurotransmissores, principalmente a serotonina, que dá um barato natural.
TRIPTOFANO
Esse aminoácido é precursor da serotonina. Sem triptofano, a produção dessa substância é insuficiente.
B6
A vitamina entra na receita das enzimas responsáveis pela síntese de substâncias químicas nervosas que regulam nosso estado de espírito.
B12
Atua na prevenção dos sintomas da depressão e ajuda a afastar os pensamentos negativos e a fadiga provocados pela doença.
ÔMEGA-3
"Essa gordura melhora a transmissão neuronal e a capacidade do sistema nervoso de se adaptar a alterações", explica a nutricionista Luciane Felix, do Conselho Regional de Nutricionistas do Distrito Federal. Além disso, o ômega-3 dá um chega pra lá em substâncias por trás de inflamações. As futuras mamães têm de caprichar no consumo de suas fontes. Isso porque esse ácido graxo tem participação crucial no desenvolvimento do sistema nervoso do bebê.
Fonte: Revista Saúde